Novas regras para reduzir cesáreas nos planos de saúde entram em vigor
Resolução da ANS têm como objetivo diminuir cesáreas desnecessárias (Foto: ALBANE NOOR / BSIP) |
Entrou em vigor nesta segunda-feira (6) a nova regra
da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
para estimular o parto normal nos planos de saúde. A Resolução
Normativa nº 368 prevê, entre outras coisas, que a gestante tenha o
direito de saber a porcentagem de partos normais e cesarianas de seu
plano de saúde, de seu hospital e de seu médico.
Veja abaixo 6 perguntas sobre os motivos e o
funcionamento dessa resolução:
Qual é o objetivo da Resolução Normativa
nº 368?
O objetivo das novas regras é diminuir a
porcentagem de cesáreas desnecessárias e aumentar a de partos
normais nos planos de saúde. Em 2013, do total de 541.476 partos
pagos por planos de saúde, 84,5% foram cesáreas, segundo
informações divulgadas pela ANS. No SUS, segundo o Ministério
da Saúde, esse índice é menor que 40%.
O que muda para a gestante com plano de
saúde?
A partir de agora, a gestante tem o direito de pedir
a seu plano de saúde a informação sobre qual é o índice de
cesáreas e partos normais de seu plano, de sua maternidade e de seu
médico. A ideia é que, com essas informações, ela possa tomar
decisões mais conscientes sobre seu parto. Ela também deve receber o Cartão da Gestante,
documento que traz os principais dados de acompanhamento da gestação.
O cartão deve ficar em posse da gestante e ela pode apresentá-lo
nos estabelecimentos de saúde em que for atendida para que os
profissionais que tiverem contato com ela possam se informar sobre o
andamento de sua gravidez.
O que muda para médicos e hospitais?
Além da obrigatoriedade de fornecer o Cartão da
Gestante, médicos também passam a ter de preencher o partograma.
Trata-se de um documento que detalha o andamento do trabalho de
parto. Se for necessário fazer uma cesárea ou recorrer a outras
intervenções durante o parto, esse documento deve dizer por que
esses procedimentos foram necessários. O que
muda é que, agora, a operadora só vai pagar o médico pelo
procedimento quando ele apresentar o partograma ou um relatório
médico, quando não for possível fazer o partograma.
Os médicos veem com ressalva a divulgação das
taxas de parto de cada profissional. "Isso é uma medida
discriminatória", diz Fernandes. Em nota, a Federação
Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)
afirma que pode haver obstetras que tenham índices altos de cesáreas
porque são especializados em partos de alto risco, por exemplo. Por
isso, a entidade pede que as gestantes avaliem essas informações
junto às operadoras de saúde.
E quando a mulher optar por cesárea, mesmo
tendo condições de fazer parto normal, os planos de saúde cobrirão
o procedimento?
Sim, a gestante pode optar pela cesariana agendada
mesmo tendo condições de fazer o parto normal. O plano de saúde
deve cobrir o procedimento. O que muda é que a gestante deve assinar
um "Termo de Consentimento Livre e Esclarecido", em que
declara que está ciente dos riscos associados à cesárea. Esse
termo deve ser anexado ao relatório médico sobre o parto que será
entregue à operadora de saúde no lugar do partograma.
Como o texto da resolução cita a obrigatoriedade
do partograma – que só é possível fazer a partir do momento em
que a mulher entra em trabalho de parto – alguns médicos
interpretaram que a resolução impedia que a grávida optasse pela
cesárea, segundo Etelvino Trindade, presidente da Febrasgo.
Detalhamentos da resolução publicados no site da ANS, porém,
deixam claro que a mulher pode optar pela cesariana.
Por que o número de cesáreas é tão alto
no Brasil?
Segundo Fernandes, os altos índices de cesarianas
nos planos de saúde envolvem vários fatores, entre eles
maternidades com estruturas voltadas para o parto cesáreo,
comodidade no agendamento do parto e remuneração baixa dos médicos
para o parto normal. Além de equipar maternidades para a realização de
partos normais, ele considera importante haver campanhas educativas
para a população sobre os benefícios do parto normal, fazer
treinamentos com os obstetras e criar um programa de incentivo com
remuneração melhor para parto normal.
A nova resolução não prevê que os hospitais
criem estruturas adequadas para a realização desse procedimento.
“Menos de 20% das salas de parto das maternidades estão preparadas
para fazer parto normal”, diz Fernandes.
“A ação que realmente pode ser definidora de uma
mudança de cultura é a ambientação do parto. Se a mulher entender
que ela será bem atendida no hospital, que tem uma equipe que vai
entendê-la, que ela conhece e reconhece, isso vai permitir que ela
se sinta confortável para escolher o tipo de parto”, diz Trindade,
da Febrasgo.
Entre as mães que já passam pela experiência de
fazer parto normal pelo plano de saúde, também há relatos sobre a
falta de adequação das maternidades ao procedimento. É o caso de
Simone Queiroz Bueno Peffer, de 27 anos. Grávida do segundo filho,
desta vez ela optou por um parto domiciliar para não ter de repetir
a experiência ruim do primeiro parto, que fez em uma maternidade
particular pelo plano de saúde.
O médico que faria seu parto demorou para chegar ao
hospital e, enquanto isso, ela se sentiu pressionada pela equipe
médica da maternidade para a realização de intervenções que não
estavam previstas em seu plano de parto. “Meu marido teve que ficar
brigando para que nossas exigências fossem atendidas. Gera uma
tensão. Nosso médico ficou preso em um trânsito terrível e
ficamos duas horas com a equipe de plantonistas. Foi um terror.”
Qual seria a porcentagem ideal de partos
normais?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o
ideal seria que apenas 15% dos partos fossem cesáreas. Médicos
dizem, porém, que esse índice não é praticado nem em países com
sistemas de saúde considerados como modelo, como a Inglaterra.
Lá, o índice é de 22%. “Locais onde menos de 15% dos partos são
cesáreos têm também maior morbidade materno-fetal”, diz
Trindade.
Fonte: Globo.com
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